0
 

 Fotos: Eunice Pinto

Fotos: Antonio Silva
Foi em junho de 1877 que o jovem padre José Nicolino de Souza, sabedor da existência dos grandes mocambos espalhados pelo extenso Vale do Trombetas e seus afluentes – onde viviam há muito tempo os negros escravos fugidos provavelmente de Gurupá e do Xingu -, decidiu se lançar em aventura por essas terras com a intenção de pregar a mensagem do Evangelho além, naturalmente, de tentar encontrar os tais campos gerais de que tivera notícia. Era o dia 12 de junho quando alcançou as terras firmes, na margem esquerda do rio Trombetas, em frente à foz do rio Nhamundá. Ali já encontrou um pequeno povoado em formação, com uns poucos moradores, entre os quais o comerciante Carlos Maria Teixeira, português da cidade do Porto, que chegara por volta de 1872, e agenciava a compra de castanha e de outros produtos nativos. Com a ajuda dos que o acompanhavam e de moradores do povoado, padre Nicolino limpou o terreno que a comunidade escolheu para a construção de uma capela e marcou simbolicamente o local com uma cruz que ele mesmo fez questão de erigir (nesse mesmo lugar hoje está edificada a Escola Lameira Bitencourt). 

Na manhã do dia seguinte, um domingo, 13 de junho de 1877, aos pés daquela cruz, foi rezada missa em ação de graças. Sendo o dia consagrado a Santo Antonio, padre Nicolino achou por bem batizar o lugar com o nome de Santo Antonio de Uruá-Tapera ou Mura-Tapera. 

Cinco dias depois, acompanhado por alguns negros da localidade que se dispuseram a segui-lo, o padre subiu o rio Trombetas, cumprindo o itinerário traçado pelos Missionários da Companhia de Jesus, e entrou pelo Cuminá até o rio Erepecuru e por este continuou a viagem até encontrar a Cachoeira da Pancada. Daí em diante, seguindo o rio e transpondo outras cachoeiras, a comitiva chegou ao Igarapé chamado Santa Luzia, em cujas imediações estava formado o Mocambo Santa Luzia e, mais acima ainda, depois da Cachoeira do Mel, encontrou o Mocambo do Torino. Nesse primeiro contato os negros escravos disseram ao padre que tinham relações de amizade com os índios Pianacotos, habitantes da região, e que com eles já haviam feito excursões pela floresta, atravessando os campos gerais e chegando até a vertente meridional do Tumucumaque, onde os holandeses de Suriname costumavam ir ao encontro deles (índios) para comerciar. Animado com essa notícia e tendo como guias dois negros do Mocambo, o padre e sua comitiva continuaram a caminhada e alcançaram uma planície que se estendia em todas as direções até perder de vista. Admirado com aquela vastidão de terras de escassa vegetação, mas de muita fartura em pastagens que pareciam não ter fim, José Nicolino chegara finalmente aos campos gerais. 

A segunda expedição, em 1881, teve o fim de traçar o rumo de um caminho mais bem definido, através da floresta, no trajeto que seguia desde a margem do Erepecuru até aos campos gerais, diminuindo a distância e evitando os trechos mais difíceis de serem transpostos, principalmente as grandes depressões que se formam na parte setentrional da região, e as cachoeiras que se multiplicam ao longo desse percurso. Mas dessa vez os esforços foram em vão e diante das dificuldades que não puderam ser superadas os desbravadores desistiram no meio da viagem, voltando ao povoado de Santo Antonio de Uruá-Tapera. 

No ano seguinte nova tentativa prosseguiu do ponto em que havia sido interrompida a viagem anterior. Já tinham se passado 11 dias desde o início da caminhada através da densa floresta quando surgiram os primeiros vestígios da presença dos Pianacotos, o que significava que a expedição estava no rumo certo. Mas na manhã do décimo terceiro dia o padre se sentiu mal e a viagem foi interrompida. Cinco dias depois, mais ou menos às 4 horas da tarde de 12 de outubro de 1882, após muito sofrimento com febre e tremores no corpo, o padre José Nicolino faleceu.
Consta do Anuário da Prelazia de Óbidos (1957-1982), intitulado “Caminhando Libertando”, a menção de que os restos mortais do padre José Nicolino de Souza, depois de enterrados no próprio local de sua morte, foram exumados e transportados para o Povoado de Santo Antonio de Urua-Tapera
, sendo inumados na capelinha por ele mesmo construída, e, anos depois, conduzidos para a Igreja Matriz de Santo Antonio, onde estão até hoje. 

Nos nove anos que se seguiram à sua fundação, o povoado experimentou significativa evolução. Tanto que o presidente da Província do Pará, Joaquim da Costa Barrada, pela Lei n° 1.288, de 11.12.1886, determinou a sua elevação, passando a se chamar Freguesia de Santo Antonio do Uruá-Tapera. E pela Lei n° 174, baixada pelo governador Lauro Sodré, com data de 09.06.1894, a Freguesia se tornou Vila, já com o nome de Oriximiná. Logo em seguida foi criado o Município com o mesmo nome, instalado no dia 05.12.1894, e nomeado para seu primeiro prefeito Pedro Carlos de Oliveira. 
Pois bem. Quase seis anos depois da festejada instalação, quando parecia que o Município já havia consolidado a sua autonomia política, era prefeito Manoel Ferreira, nomeado para suceder Emídio Martins Ferreira, por sua vez sucessor de Pedro Carlos de Oliveira, quando o governador do Estado, Paes de Carvalho, influenciado por opiniões contrárias aos interesses dos oriximinaenses, tomou uma medida extrema: através da Lei n° 729, de 03.04.1900, simplesmente decretou a extinção de Oriximiná e dividiu o seu território entre Faro e Óbidos e atribuiu a Óbidos a administração total desse legado. 

Tomados de justa indignação, os oriximinaenses foram à luta, durante mais de trinta anos, até que em 22.03.1933 o Major Joaquim de Magalhães Cardoso Barata, interventor do Pará, sensibilizado pelos veementes apelos dos políticos locais, resolveu criar a Sub-Prefeitura de Oriximiná, oficialmente instalada em 4 de junho desse mesmo ano e, ato seguinte, empossou no cargo de Sub-Prefeito Helvécio Imbiriba Guerreiro. 

O próprio Magalhães Barata tomou a iniciativa de restabelecer a emancipação definitiva de Oriximiná, recompondo a sua estrutura física e administrativa através do Decreto Lei n° 1.442, de 24 de dezembro de 1934. E no dia 10.01.1935 foi instalado o Município e empossado o seu prefeito, Helvécio Imbiriba Guerreiro.   

O município de Oriximiná, originado do povoado de Uruá-Tapera (1877), constitui, a partir de 24 de dezembro de 1934, uma área territorial de 109.122 Km², no extremo oeste do Estado do Pará, no seio da Amazônia Legal. Tem fronteiras com Suriname e Guiana e divisas com os Estados do Amazonas e Roraima.
Situado à margem esquerda do rio Trombetas, afluente do rio Amazonas, em meio à várzea e a floresta vive sua população de mais de 66 mil habitantes, etnicamente formada por remanescência indígena (Konduris, Wai-Wai, Tiriós), africana (remanescentes de quilombos) e europeia (portugueses e italianos).  Ao longo das margens do rio Trombetas ainda há comunidades quilombolas e indígenas.
A cidade é urbanizada e quase a totalidade de suas ruas é asfaltada. Passeios de barco e banhos de rio pontificam nas atividades de lazer, ao lado da pesca esportiva de tucunaré. 

As mulheres são bonitas e os homens, uns sortudos. Um apostador ganhou sozinho exatos R$2.540.940,39 no último dia 26 de novembro, na Timemania, loteria da Caixa Econômica Federal. 
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

Santa Casa precisa de leite materno

Anterior

Salinópolis merece ser bem cuidada

Próximo

Você pode gostar

Comentários