Publicado em: 22 de fevereiro de 2016
Em um país de cultura predominantemente machista e raízes patriarcais, a mulher parece dar passos cada vez mais curtos – e para trás – ao invés de ocupar espaço na política nacional. O papel social da mulher e sua posição na sociedade brasileira ainda são permeados de contradições. A participação feminina na Câmara dos Deputados é de míseros 9% e, no Senado, de 10% do total, embora a lei assegure 30%, no mínimo. O número de governadoras também é irrisório, malgrado a presidente da República seja mulher. Aliás, durante a maior parte da História do Brasil, as mulheres nem participaram da política, pois a elas eram negados os principais direitos como, por exemplo, votar e se candidatar, o que só conquistaram em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas.
Em 1929, Alzira Soriano foi a primeira mulher – no Brasil e na América Latina – a tomar posse como prefeita, em Lages (RN). Ela foi eleita em 1928, aos 32 anos, quando as mulheres nem podiam votar. Nas eleições de 1933, a médica Carlota Pereira de Queirós se tornou a primeira deputada federal brasileira. Mas só em 1979 foi eleita a primeira senadora do Brasil, Eunice Michiles. E em 24 de agosto de 1982 é que então o Brasil teve a primeira mulher ministra, Esther de Figueiredo Ferraz, na pasta da Educação e Cultura.
Em 1989, a primeira candidatura de uma mulher para a presidência da República foi a de Maria Pio de Abreu, do PN (Partido Nacional). Em 1995, Roseana Sarney se tornou a primeira governadora brasileira e, em 31 de outubro de 2010, Dilma Rousseff a primeira mulher presidente da República no Brasil, reeleita em 2014.
Em 1989, a primeira candidatura de uma mulher para a presidência da República foi a de Maria Pio de Abreu, do PN (Partido Nacional). Em 1995, Roseana Sarney se tornou a primeira governadora brasileira e, em 31 de outubro de 2010, Dilma Rousseff a primeira mulher presidente da República no Brasil, reeleita em 2014.
Desgraçadamente, ainda hoje, as mulheres que sobressaem na política brasileira – em sua maioria – são esposas, amantes, filhas, parentes ou aderentes de políticos.
Políticos – como os brutos – também amam. A História é repleta de romances cinematográficos de poderosos, a maioria fora do casamento. Em incontáveis ocasiões, paixões extraconjugais abalaram governos ou causaram graves crises institucionais. No Brasil, pródigo em casos tórridos, nos últimos anos tem havido uma sequência impressionante de escândalos detonados, digamos assim, por ex-mulheres e ex-amantes. A maioria delas, depois de estremecer a República, cumpre trajetória idêntica e manjada: posa para revistas masculinas, dá entrevistas em programas de TV, sites e revistas de fofoca, reforçando o orçamento com a visibilidade alcançada. Isto quando não lançam livros “reveladores”.
A bola da vez, agora, é a jornalista Mírian Dutra, num enredo que cabe como uma luva no livro “Zero”, de Umberto Eco, no qual o saudoso “papa da comunicação” delineia contornos históricos e éticos de jornalistas e do jornalismo. Mírian Dutra – profissional experiente, competente, viajada, inteligente e que chegou a correspondente internacional da Rede Globo – conta, com a candura de uma adolescente, que durante os seis anos de seu relacionamento extraconjugal com o então senador Fernando Henrique Cardoso(PSDB) ficou grávida duas vezes e abortou, por culpa dele, embora em entrevista à Folha de São Paulo largamente difundida aos quatro cantos do mundo admita “eu não queria ter outro filho, eu tinha minha filha, estava muito feliz”. Acusa FHC de ter insistido também para que abortasse o filho Tomás, na sua terceira gravidez, que levou adiante. Revela que foi sustentada por uma pensão que teria sido intermediada por uma empresa onde nunca foi trabalhar.
Mírian, óbvio, tomou suas decisões quanto aos abortos que praticou e também quanto ao seguimento de sua gravidez. Sabia que estava recebendo sem trabalhar. Mas quer fazer crer, agora, que foi apenas uma vítima de FHC, e que se tornou a última cidadã brasileira exilada por motivos políticos. Claro que – doa a quem doer – deve ser apurado se houve tráfico de influência e uso de recursos públicos para sua manutenção. Mas a contribuição de Mírian Dutra para enxovalhar a imagem feminina é espantosa.
Em 1989, na reta final da disputa pela presidência da República, Miriam Cordeiro apareceu na propaganda oficial de Fernando Collor de Mello acusando Lula – que na época do namoro não era casado – de ter pedido a ela que abortasse a filha Lurian, além de sugerir que o candidato do PT era racista.
A empresária Thereza Collor, na flor de seus 29 anos, chamou atenção ao lado do marido, Pedro Collor de Mello, durante uma coletiva de imprensa em que ele mostrou atestado de sanidade mental e sustentou as denúncias de corrupção que acabaram no impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Ela não falou uma palavra durante a coletiva, mas, contra a família de ambos, ficou ao lado do marido que reafirmava as acusações de lavagem de dinheiro no exterior comandada pelo ex-tesoureiro Paulo César Faria, o PC Farias. Pedro Collor morreu de câncer em 1994.
Doze anos após o impeachment, a ex-primeira dama Rosane Collor revelou, em entrevista à revista Veja, que o ex-presidente Fernando Collor de Mello fazia rituais de magia negra na Casa da Dinda, residência oficial da presidência. Além disso, ao contrário, do que Collor afirmou na ocasião, ele continuava mantendo contato com PC Farias, mesmo após as denúncias de corrupção, que terminaram com a prisão de PC. O casal se separou em 2005, um ano antes de ele ser eleito senador. Ela se tornou evangélica e ganhou na Justiça no ano passado o direito a receber R$ 20 mil mensais de pensão do ex-marido.
Há, ainda, mulheres que, embora não tenham participação direta nos escândalos, acabam atraindo os holofotes da imprensa. Em 1985, Luciane Quadros, prima de Jânio Quadros, foi capa da Playboy.
Na época, Jânio era candidato à prefeitura de São Paulo.
Na época, Jânio era candidato à prefeitura de São Paulo.
Em 1992, Wanya Guerreiro foi anunciada pela Playboy como a “mulher que fez PC Farias e Pedro Collor perderem a cabeça”.
Em 1997, a cunhada do então deputado Luiz Eduardo Magalhães, Rose Anne, posou para a edição de Natal da Playboy.
Em 2005, foi a vez de Camila Amaral, assessora de imprensa da senadora Ideli Salvatti, exibir sua nudez na revista. Ela foi eleita musa da CPI do Mensalão. Suas fotos foram feitas dentro de um cenário que imitava um gabinete.
Em 2007, a jornalista Mônica Veloso ficou famosa em meio ao escândalo Renangate, que derrubou o então presidente do Congresso Nacional. Na ocasião, a revista Veja divulgou que despesas pessoais, incluindo a pensão da criança que nasceu da relação de Mônica e Renan Calheiros(PMDB), eram pagas pelo lobista Claudio Gontijo, ligado à empreiteira Mendes Júnior. Ela foi capa da Playboy e lançou o livro “O poder que seduz”, em que relata a relação com o senador.
Vanessa Caroline Alcântara, 27 anos, ex-amante do auditor fiscal da prefeitura de São Paulo, Luís Alexandre Magalhães, insatisfeita com a pensão de R$ 700 que ele pagava à filha, denunciou esquema de cobrança de propina para reduzir o valor do ISS de grandes incorporadoras.
Outra que deu o que falar foi a ex-chefe de gabinete do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva(PT), Rosemary Noronha. Ela também ganhou notoriedade após ser acusada de usar sua proximidade com Lula para conceder favores a políticos e empresários em troca de presentes. Na ocasião, também se levantou a hipótese de que os dois tinham um relacionamento íntimo, o que não ficou comprovado. Rose responde por falsidade ideológica, tráfico de influência, corrupção passiva e formação de quadrilha.
A advogada e ex-assessora do senador Ciro Nogueira (PP), Denise Leitão Rocha, ficou conhecida como o Furacão da CPI do bicheiro Carlinhos Cachoeira, em 2012. Após a repercussão em Brasília e ser exonerada por aparecer em um vídeo na internet fazendo sexo, participou do reality show A Fazenda e, claro, foi capa da Playboy.
Andressa Mendonça, mulher do bicheiro Carlinhos Cachoeira, foi alçada a musa da CPI e convidada para posar nua na ‘Playboy’.
“O mensalão existe e o Valdemar recebia”. Com essa frase, a socialite Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do deputado Valdemar Costa Neto (PL na ocasião, que depois virou PR), confirmou, em julho de 2005, a participação do ex-marido no esquema de compra de votos na Câmara dos Deputados. Costa Neto foi condenado no julgamento do Mensalão e renunciou ao mandato após ter a prisão decretada.
Nicéa Pitta, a ex-mulher do ex-prefeito Celso Pitta(PTB), foi um dos principais estopins para a crise na Prefeitura de São Paulo, em 1999. Motivada por ciúmes e disputas por dinheiro, ela acusou o ex de corrupção na administração na cidade e compra de vereadores. Celso Pitta morreu em 20 de novembro de 2009, aos 63 anos, em decorrência de câncer no intestino, e deixou 21 processos em andamento na Justiça (quatro ações cautelares e 17 por improbidade administrativa), que envolviam R$ 4 bilhões. Nicéa não conseguiu pagar as taxas de condomínio do luxuoso apartamento no bairro dos Jardins onde viveu com Pitta e perdeu sua propriedade.
A jornalista Cláudia Cruz, mulher do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusado de manter na Suíça contas onde teria recebido cerca de US$ 5 milhões em propinas do Petrolão, teve que alterar seus sofisticados hábitos, tais como ser hóspede frequente de hotéis e restaurantes caríssimos na Europa, como o La Tour D’Argent, em Paris. Já foi vaiada no restaurante do hotel Fasano, em Ipanema, no Rio, e teve que abandonar o almoço com amigas, depois que uma revoltada senhora disse, em alto e bom som: “Ela está almoçando com o nosso dinheiro!”.
Carolina de Oliveira, mulher do governador Fernando Pimentel (PT/MG), também teve seu nome envolvido em buscas da PF para investigar denúncias de sobrepreços em contratos públicos.
E la nave va, como diria Fellini.
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