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Do alto de seus 85 anos, o poeta, prosador, ensaísta, romancista, ficcionista, teatrólogo e professor João de Jesus Paes Loureiro, um dos intelectuais mais importantes do Pará de todos os séculos, fez uma carta aberta ao governador Helder Barbalho, que ele mesmo lê em vídeo, em defesa dos equipamentos estatais da cultura, comunicação, educação e artes, ameaçados de extinção pelo projeto 701/2024. Impossível não se emocionar com a humildade e lucidez próprias da sua grandeza e genialidade.

Professor de Estética e Arte, mestre em Teoria da Literatura e Semiótica, doutor em Sociologia da Cultura, é, sem favor algum, um ícone amazônico com dimensão planetária. Homem à frente de seu tempo, Paes Loureiro foi um divisor de águas quando exerceu os cargos de secretário de Estado de Cultura e também de Educação. Foi o primeiro a presidir a Fundação Cultural do Pará; idealizou e presidiu o Instituto de Artes do Pará. Foi, ainda, secretário municipal de Educação e Cultura de Belém.

Pois bem. O gigante JJ Paes Loureiro lembra ao governador Helder Barbalho que a Fundação Cultural do Pará, denominada originalmente Tancredo Neves – Centur, é legado de seu pai, o senador Jader Barbalho, que inaugurou em junho de 1986 o maior e mais moderno centro cultural da região Norte, palco de explosões artísticas vindas de todos os municípios e que aconteciam no Projeto Preamar.

O Centur foi o primeiro centro de convenções do Pará e ali foram realizados eventos nacionais e internacionais de enorme importância, como o Seminário Internacional sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, preparatório para a Rio-92, entre muitos outros. Ali borbulhava a livre expressão popular, manifestação da identidade cultural parauara. Jader Barbalho criou esse espaço a fim de proporcionar acesso ao teatro, à música, artes plásticas, dança, cinema e também a palestras e discussões sobre assuntos antes proibidos.

No prédio do Centur, sede da FCP, estão o Teatro Margarida Schivasappa, o Cine Líbero Luxardo, a Biblioteca Pública Arthur Viana, a Fonoteca Satyro de Mello, o Centro de Eventos Ismael Nery, o Hall Ernesto Cruz, a Sala Haroldo Maranhão e a Galeria Theodoro Braga, que revelam novos cantores, escritores, atores, artistas plásticos, grupos musicais, de teatro e dança e também são frequentados pelos já consagrados. Trocando em miúdos, é ambiente de educação, arte, comunicação e cultura. Não é crível que precise desaparecer para o estado economizar.

Em maio de 2010, em artigo publicado no Diário do Pará sobre a Fundação Cultural do Pará, Jader concluiu seu texto afirmando: “sua história vai atravessar o tempo e seus espaços alternativos vão continuar a integrar o público e o artista”. Que o governador Helder Barbalho não trafegue na contramão da História.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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