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A Comissão da Verdade do Pará faz a oitiva, hoje, de Aurilea Abelem e Dulce Rosa Rocque, no Seminário “As mulheres e a resistência à ditadura no Pará”. Ambas contarão em audiência pública a experiência vivida e o processo de resistência, sob a ótica feminina, num dos períodos mais sombrios de nossa história recente. Será a partir das 15h, na Sala VIP da Assembleia Legislativa,  e qualquer pessoa pode assistir.

Em 1964 Dulce Rosa de Bacelar Rocque cursava a Faculdade de Economia, na UFPA, quando foi cooptada pelo PCB para realizar atividades necessárias ao conhecimento da situação nas prisões. Pouco a pouco se entrosou em estratégias de resistência ao golpe civil-militar. Como não tinha qualquer ligação conhecida  com os partidos e grupos políticos que caíram na clandestinidade, conseguiu circular por Belém sem levantar suspeitas e arrecadando, inclusive, finanças para o PCB entre intelectuais, comerciantes e industriais. Sua ida em 1969 para a URSS para concluir estudos e seu casamento com um membro do Partido Comunista Italiano fizeram-na agir na Europa em defesa da redemocratização do País. Suas lutas aconteciam principalmente no verão, durante os festivais do jornal L’Unita, do PCI, onde, além de denunciar a situação da ditadura, recolhia assinaturas em cartas de denúncia que eram envidas ao Brasil e a jornais internacionais e embaixadas europeias. Foi desaconselhada a voltar ao País por ter seu nome e fotografia nos aeroportos depois de uma viagem de Filinto Muller à Europa. Sabia que sua prisão incorreria tortura e risco de vida para sua família e para as personalidades brasileiras no exílio que conhecia e frequentava. Retornou em 2005 para o Brasil e se fixou em Belém, onde ainda hoje luta pela aplicação das leis relativas a direitos humanos e à defesa do Patrimônio Histórico por meio da Associação de moradores Cidade Velha-Cidade Viva e do blog Laboratório da Democracia, além de ativismo nas redes sociais. 

Casada com Jorge Abelém, Auriléa Gomes Abelém tinha o projeto de assistir desfavorecidos e perseguidos políticos do regime ditatorial de 1964. Sua entrada em 1963 para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da UFPA, fê-la perceber mazelas e injustiças sociais. A obra “Urbanização e Remoção: por que e para quem?”, consequência do Mestrado no Núcleo de Altos Estudos da Amazônia, é exemplo de engajamento junto aos menos favorecidos das periferias de Belém. Assim, em conluio com o marido, criou escritório de advocacia para gerar empregos aos dissidentes políticos, tidos como subversivos. Atuou no magistério superior, sempre preocupada em emprestar e impregnar sua postura humanística à formação política dos acadêmicos. Apesar de não ter sido filiada a qualquer partido político de esquerda, sua atuação de solidariedade a insere dentre os importantes quadros de ajuda ao processo de resistência à ditadura.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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