Moro em São Braz, onde está o famoso Chapéu do Barata, exemplo da falta de edução cívica de nosso povo, já que está totalmente depredado pelos sacripantas, com a complacência da autoridade pública responsável péla preservação.
Minha avó paterna era apaixonada pelo governador Barata e tinha pregado na parede da varanda aquele famoso retrato, onde ele está de lado, fardado e exibindo na cabeça um chapéu de campanha.
Ela dizia que ele era bonito.
Mas, ironicamente, nunca o viu pessoalmente, nem de longe, segundo ela, para não perder o encanto.
Acho que ela nunca soube que ele era apelidado de Pilão Fardado pelos inimigos.
Eu era criança, mas me contavam que Barata não gostava de ir a Santarém, pois temia, não sei os motivos, que ali o envenenassem.
Meu pai me contou que quando chegava na cidade, só fazia refeições na casa da família do Sr. Perilio Cardoso, um homem negro, alto e estimadíssimo em Santarém, conhecido por ser fabricante de caixões de defunto e por tocar Tuba na banda de música.
O Governador comparecia as solenidades políticas, mas não bebia nem água e nem comia nada, até chegar na casa do amigo.
Eu aqui com minhas deduções, desconfio que pelo sobrenome Cardoso, talvez fossem até mesmo parentes.
Meu sogro era outro muito ligado ao Governador, aqui em Belém.
Baratista ferrenho, comparecia aos comícios: festas cívicas e políticas e tinha entrada livre no palacete governamental: a qualquer hora e até pela porta da cozinha, como costumava dizer.
Para selar a amizade, aprofundou até as relações de compadrio, pois Barata era padrinho de batismo de um dos meus cunhados.
Certa vez perguntei se ele ganhava muitos presentes do padrinho poderoso.
Ele, mal disfarçando o sorriso, me disse:
-Sim, ganhava presentes!
E eu perguntei, curioso:
– Que presentes?
E ele me respondeu:
– Muitas caixas de charuto… vazias!
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